
As 'periguetes' aumentaram a
solidão dos pobres 'voyeurs' brasileiros. Sem falar nas revistas que programam
industrialmente nossa tesão.
Nunca as mulheres foram tão nuas
no Brasil; já expuseram o corpo todo, seios, vagina, mucosas, ânus. O que
falta? Os órgãos internos?
Muitas têm boquinhas tímidas,
algumas sugerem um susto de virgens, outras fazem cara de zangadas, ferozes
gatas, mas todas nos olham dentro dos olhos como se dissessem: "Venham...
eu estou sempre pronta, sempre excitada, eu independo de carícias, de
romance!". Sugerem uma mistura de menina com vampira, de doçura com
loucura. Seu ideal é serem desejadas como bons produtos. Felicidade é ser
consumido. Felizes como coisas: Uma salsicha é feliz? Um bela lata de caviar?
Mas como amar um eletrodoméstico?
Que querem essas mulheres? Querem
acabar com nossos lares? Querem nos humilhar com sua beleza inconquistável?
Elas têm de fingir que não são reais, pois ninguém mais quer ser 'real' hoje em
dia. Vi um anúncio de uma boneca inflável que sintetizava o desejo impossível
do homem de mercado: ter mulheres digitais que não vivam... O anúncio tinha o
slogan embaixo: "She needs no food nor stupid conversation". (Nem
precisa levar para jantar nem ter conversa fiada). A liberdade de mercado
produziu um estranho 'mercado da liberdade'.
Eu não falo isso como crítica. Não. Eu tenho inveja, a verde, viscosa e sinistra inveja da ausência de angústia, da ignorância gargalhante que adivinho sob seios siliconados de mulheres gostosérrimas ou sob os peitos raspados de garotões 'tanquinhos'.
Eu não falo isso como crítica. Não. Eu tenho inveja, a verde, viscosa e sinistra inveja da ausência de angústia, da ignorância gargalhante que adivinho sob seios siliconados de mulheres gostosérrimas ou sob os peitos raspados de garotões 'tanquinhos'.
Chego na banca de jornais e peço:
Me dá o Estadão, O Globo. Pelo canto do olho, vejo as revistas sexies. Pergunto
ainda: Já chegou o The Economist, o Foreign Affairs? Ah... não?... Então...
tudo bem... ah... me dá aquela revista ali... "Qual?" - pergunta a
jornaleira. "Aquela ali...", respondo com falsa displicência,
apontando uma mulher fruta na capa. A gorda senhora italiana me olha com
desprezo irônico.
Vou para o escritório como um
velho onanista com um crime nas mãos. Eu precisava entender as bundas das
mulheres frutas. Começo a rasgar o papel de celofane com mãos trêmulas. As
'frutas' me olham de costas, como uma salada. Lendo a revista, começo a sofrer.
Decepciono-me com o que vejo. Penso: "Estou velho ou as 'uvas estão
verdes?". Folheio a revista em busca do desejo, mas nada acontece.
"Por que, meu Deus? Elas são feias?" Que nada. Ninguém mais é feio.
Ali só há mulheres retocadas e lindas, para programar nossa libido. Essas
mulheres perfeitas pelo 'photoshop' não precisam de nós. Elas parecem ser as
namoradas de si mesmas.
Olho as revistas povoadas de mulheres lindas e me sinto mais só, diante de tanta oferta impossível. Elas são muita areia para o caminhão dos proletários sexuais que jamais terão dinheiro ou charme para conhecê-las. Elas provocam uma 'tesão de classe'.
Olho as revistas povoadas de mulheres lindas e me sinto mais só, diante de tanta oferta impossível. Elas são muita areia para o caminhão dos proletários sexuais que jamais terão dinheiro ou charme para conhecê-las. Elas provocam uma 'tesão de classe'.
E a grande moda do momento? Ah...
são mulheres penduradas em acrobáticas posições ginecológicas para raspar os
pelos pubianos nos salões de beleza. Ficam balançando em paus de arara e,
depois, saem felizes com apenas um canteirinho de cabelos, como um jardinzinho
estreito e não mais a floresta peludas onde mora a temível 'vagina dentata'.
Parecem uns bigodinhos verticais que me fazem pensar em Hitler ou Sarney. Elas
não querem ser amadas; querem que a gente sofra. Querem ser coloridos objetos
para nossa masturbação. Mas isso é injusto para com o punheteiro contemporâneo,
que vira um pobre excluído.
Antigamente não tinha isso não. A doce punhetinha era pura narrativa literária. Punheta era dramaturgia. Tínhamos de imaginar complicados enredos, com tramas de suspense e estrutura de romance policial. O que mais acendia o desejo eram justamente as peripécias, os obstáculos até chegarmos ao orgasmo. Imaginávamos cenas excitantes:
Antigamente não tinha isso não. A doce punhetinha era pura narrativa literária. Punheta era dramaturgia. Tínhamos de imaginar complicados enredos, com tramas de suspense e estrutura de romance policial. O que mais acendia o desejo eram justamente as peripécias, os obstáculos até chegarmos ao orgasmo. Imaginávamos cenas excitantes:
Na sala vazia, D. Abigail,
professora de matemática, irritou-se comigo: "Raiz quadrada de B2 menos
4AC sobre 2A! Será que você não aprende? Coberto de vergonha, abaixo a cabeça e
vejo a saia justa lascada do lado, a deliciosa nesga de perna branca com
celulite.
D. Abigail grita comigo: "Levanta a cabeça! Repete a equação!". "Não sei, professora...", respondo debulhado em lágrimas. "Vem cá, filhinho, eu te ensino." E D. Abigail me aperta contra os seios, e suas mãos descem lentamente, enquanto suas coxas com celulite se roçam, produzindo o suave 'frufru' das meias de 'nylon' recém-chegadas da América...
Ou podia ser então a mãe 'boa' de algum amigo: "Carlos Eduardo está em casa, dona Flora?". "Não, Arnaldinho... Mas, eu estou. Venha cá no quarto ver meu sapato altíssimo de verniz negro e ponta fina que faz 'tic tic' no assoalho..."
D. Abigail grita comigo: "Levanta a cabeça! Repete a equação!". "Não sei, professora...", respondo debulhado em lágrimas. "Vem cá, filhinho, eu te ensino." E D. Abigail me aperta contra os seios, e suas mãos descem lentamente, enquanto suas coxas com celulite se roçam, produzindo o suave 'frufru' das meias de 'nylon' recém-chegadas da América...
Ou podia ser então a mãe 'boa' de algum amigo: "Carlos Eduardo está em casa, dona Flora?". "Não, Arnaldinho... Mas, eu estou. Venha cá no quarto ver meu sapato altíssimo de verniz negro e ponta fina que faz 'tic tic' no assoalho..."
Mãe de amigo era 'tudo' e nos
dava um acre sabor de culpa perversa.
É isso aí.
E ao fechar este texto, me
assalta a dúvida: estou sendo hipócrita e com inveja do erotismo do século 21?
Será que fui apenas barrado do baile?
Arnaldo Jabor
Fonte: Citações Arnaldo Jabor