A universidade brasileira tem aumentado a preocupação em identificar
plágios em trabalhos acadêmicos, com a adoção de softwares que apontam
possíveis cópias. Um desses programas já está sendo usado em 35
universidades do País, com o objetivo de analisar pesquisas de
pós-graduação e também trabalhos da graduação.
Segundo professores e especialistas em ensino superior, problemas de
plágio, como reprodução indevida de trechos e mesmo de ideias, sempre
existiu. Mas a internet fez com que a cópia se tornasse mais comum -
tanto pelo acesso a um volume gigantesco de informações quanto pela
facilidade do Crtl C, Crtl V (atalho do corte e cola).
Com o aumento do problema, surgiram os softwares antiplágio, que
funcionam como um grande buscador. Em linhas gerais, eles cruzam o texto
entregue com artigos da internet, com um banco próprio de textos
acadêmicos e com trabalho dos próprios colegas, no caso de uso do
programa na graduação.
"A licença funciona de acordo com o tamanho da universidade e leva em
conta o número de alunos, por exemplo", diz a inglesa Alice
Lupton, Gerente de Desenvolvimento da América Latina do Turnitin, o mais
popular software antiplágio, que já fechou contrato com 35
universidades brasileiras.
A Universidade Estadual Paulista (Unesp), por exemplo, paga uma
licença anual de R$ 18 mil para que a ferramenta esteja disponível para
todos os professores. A instituição já usa o dispositivo há três anos.
De acordo com o presidente da Comissão Permanente de Avaliação da Unesp,
Carlos Roberto Grandini, o uso por parte dos docentes depende de
treinamento, que tem sido feito com regularidade. Mas fica a critério de
cada profissional decidir se vai usar. "É um grande facilitador em
teses, porque não é possível ter o domínio de todo o conteúdo que
existe", diz ele, que adota o software também em aulas de graduação e
usava quando foi editor de uma revista científica.
Grandini conta que já recusou dois artigos na revista depois que o
software apontou níveis muito altos de similaridade. "Mas o software não
diz se há plágio de fato, o professor precisa analisar as indicações de
similaridade e avaliar se há um problema", diz. Segundo ele, ainda não
houve casos graves em pesquisas, só ocasiões em que os autores não
haviam feito uma citação corretamente. "Esse descuido é comum nos
trabalhos de graduação, quando os alunos ainda não sabem como pesquisar,
como creditar." O ITA é outra instituição pública que também adota o
software.
No início de maio, Alice Lupton percorreu
vários Estados brasileiros para apresentar o programa. Segundo ela, o
interesse das instituições de ensino e editoras de publicações
acadêmicas cresceu com notícias de casos de cópias em pesquisas.
O escândalo mais recente foi com a ministra da Educação da Alemanha,
Annette Schavan, que no ano passado deixou o cargo após perder seu
título de doutorado por acusações de plágio. "É uma preocupação que
ocorre no mundo todo, as instituições estão preocupadas com a
reputação", diz Alice. Só o Turnitin tem contratos com universidades e
editoras em mais de cem países. Na Inglaterra, por exemplo, a taxa de
uso entre universidades é de mais de 95%.
O Grupo Positivo já usava há alguns anos o programa Farejador de
Plágio e adotou em 2013 o Turnitin, inicialmente em um programa de
pós-graduação. "Nosso objetivo é garantir a originalidade dos trabalhos.
Instruímos o aluno sobre o que é plágio e como evitar, porém, nem
sempre isso acontece", diz o professor Maurício Dziedzic, que coordena o
Programa de pós em Gestão Ambiental da Universidade Positivo (PR). Na
medida em que os professores vão conhecendo o programa, o uso aumenta.
A adoção do caçador de plágios na
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) também
tem sido paulatina. O uso do software começou em 2013, também na
pós-graduação, e o plano é que os professores da graduação comecem neste
ano.
"O próximo passo é incluir a graduação. Hoje, acontece apenas em
situações em que já foi identificado o problema, de forma reativa", diz o
professor César Augusto De Rose, assessor de Tecnologia da pró-reitoria
de pesquisa da PUC-RS.
De Rose afirma, entretanto, que identificar um plágio não é tão
simples. "Existe dificuldade de não tipificar o plágio em um número, por
isso o software não pode ser definitivo. Temos de saber qual nível
tolerável de similaridade", diz.
A coordenadora institucional do curso de Direito da Fundação Getúlio
Vargas (Direito-GV), Adriana Ancona de Faria, lembra que o software não é
inteligente. "A tecnologia não faz mágica. Ela só detecta o trecho
reproduzido. O professor tem de mapear as cópias."
Especialista em análise de produção científica, o professor Rogerio
Meneghini vê com bons olhos o uso mais frequente dos softwares, mas faz
uma ressalva em relação à impressão de que vivemos em uma época com mais
fraudes. "Não temos informações sobre a extensão desse problema. Talvez
o número de casos esteja aumentando na medida em que os softwares têm
sido utilizados."
Fonte: Paulo Saldaña - O Estado de S.Paulo
Curta a página do Chavalzada no Facebook www.facebook.com/chavalzada
Siga o nosso perfil no Twitter www.twitter.com/chavalzada
Deixe sua opinião nos comentários, nós agradecemos!
0 Comentários
Deixe sua opinião nos comentários, nós agradecemos! As opiniões contidas nos comentários são de responsabilidade dos autores dos mesmos.