Por uma daquelas ironias inexplicáveis do destino, Fagner e Zé Ramalho jamais haviam gravado um disco juntos. Acidente de percurso que os amigos, vizinhos e parceiros de violadas desde os anos 1970 acabam de colocar por terra com "Fagner e Zé Ramalho Ao Vivo".
Gravado em três noites no Teatro Net Rio, em julho, o álbum acústico celebra as lembranças e o legado de uma dupla de sotaque nordestino —Fagneré cearense; Zé, paraiabano— que ajudou a "descaretar" uma até então reverente música popular brasileira, muito voltada a si mesma e à construção de seus próprios mitos.
"Nossa geração mostrou como era possível fazer música brasileira com influências não só do Brasil. Principalmente por causa do pop. A gente ouvia muito Beatles, música progressiva. Nós demos essa contribuição, que hoje é só o que se faz por aí", diz Fagner em entrevista por telefone ao UOL.
Conhecidos pela parceria empreendida em "Eternas Ondas", Fagner e Zé Ramalho se conheceram num evento no Parque Lage, no Rio, na década de 1970. O futuro autor de "Avôhai" acabara de gravar o psicodélico "Paêbiru", com o finado Lula Côrtes. Tão logo viraram amigos, Zé começou a desenvolver uma espécie de obsessão por Fagner.
"Ele vivia atrás de mim, e um dia veio morar no meu prédio. Outras pessoas já tinham vindo morar. Eu trouxe o Cazuza pra viver aqui. Na ocasião, o Geraldinho Azevedo também já morava. Era um prédio bem conhecido, bacana. Ele que me perseguiu", brinca.
Dono de um dos mais vastos repertórios românticos da música brasileira, Fagner fala sobre as gravações dos shows, delimita a cultura sertaneja, cita os modismos do Nordeste, além de afastar totalmente a ideia de aposentadoria. Uma decisão que, para ele, geraria revolta.
"Eu estou muito bem. Estou um gato. Tem dia que passo na rua e é nego querendo me agarrar. O público não me larga, eu sou muito lindo, todos me querem. Sou uma pessoa que não pode se aposentar. Se eu me aposentar, haverá um movimento no Brasil inteiro: "Volta, Fagner!".
Foto: Ricardo Borges/Folhapress
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