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Pais em alerta: 11 estados e DF sofrem com 2 horas de apagão

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) confirmou, ontem, que o apagão ocorrido em vários estados do País foi decorrente, em parte, do aumento da demanda de energia no horário de pico. Em nota publicada em seu site, o órgão disse ainda que houve "restrições de transferência de energia das regiões norte e nordeste para o sudeste", sem explicar claramente o que isso seria. Não está claro se essas "restrições" significam falhas em linhas de transmissão ou subestações de energia.

O ONS explicou que essa situação provocou uma queda na "frequência elétrica" do sistema, provocando o desligamento automático de 11 usinas geradoras, das quais oito estão no Sudeste, duas no Centro-oeste e uma no Sul. Essas usinas produzem no total 2.200 MW. O sistema, que segundo o ONS opera em frequência de 60 hertz, caiu a 59 hertz, causando a falha.

A usina nuclear de Angra 1, em Angra dos Reis, foi uma das que parou de funcionar. Segundo a Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras que opera a usina, por conta da alteração no padrão de frequência da usina, a unidade foi desligada às 14h49 e até às 18h56 não havia sido religada. O ONS informou que "visando restabelecer a frequência elétrica às suas condições normais" atuou em conjunto com as distribuidoras das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, "impactando menos de 5% da carga do sistema".

Regiões afetadas

Milhões de consumidores ficaram sem energia em ao menos 11 Estados e no Distrito Federal. Foram afetadas diversas regiões de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e o DF.

O apagão, que começou por volta das 14h30, durou mais de uma hora e paralisou operações como a Linha 4-Amarela do Metrô de São Paulo, obrigando milhares de pessoas a sair dos vagões e caminhar sobre os trilhos para chegar às estações.

A origem do apagão está diretamente associada a limitações operacionais que o setor elétrico tem enfrentado. Por conta do nível crítico dos reservatórios das principais hidrelétricas do País, o ONS tem utilizado a carga plena das usinas térmicas, a fim de preservar ao máximo a água nas barragens.

Ocorre que essa capacidade de geração térmica também tem limites, o que reduz a capacidade de gerenciamento do operador. Soma-se a essa restrição dois fatores climáticos: a falta de chuvas e o calor recorde.

Calor e seca

Em pleno período chuvoso, as regiões Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste têm registrado índices frustrantes de chuvas. O ONS chegou a projetar que, neste mês, o volume de chuvas chegaria a 90% da média histórica no Sudeste/Centro-Oeste e a 63% no Nordeste. Na realidade, o índice registrado até ontem foi de 44% e 33%, respectivamente

Do ano passado até agora, o País tem batido recordes sucessivos de demanda de energia por conta da forte onda de calor. É no horário da tarde que se concentram os picos do consumo, quando milhões de pessoas voltam do horário de almoço para o trabalho e ligam o ar condicionado, que consome muita energia.

Dados do ONS mostram que dois recordes foram registrados na semana passada. No dia 13 de janeiro, o consumo da região Sudeste/Centro-Oeste, atingiu a marca inédita de 51.295 MW. No dia seguinte, o consumo na região Nordeste alcançou outro recorde: 11.999 MW.

Sem risco de repetição

O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, afirmou que o apagão foi causado por um problema técnico em uma linha de transmissão de Furnas, que faz a ligação Norte-Sul da rede da companhia administrada pela Eletrobras.

Para Braga, no entanto, não há risco do problema se repetir em novos momentos de pico de consumo. "Houve um problema de equipamento. Se não houvesse essa falha técnica, não teria a queda de energia. Na semana passada houve um pico de consumo e o fornecimento não foi afetado", argumentou.

Risco de novo apagão é apontado

São Paulo O presidente de Itaipu Binacional, Jorge Sameck, minimizou o risco de se repetir, nesta terça-feira, o apagão ocorrido ontem no sistema elétrico, afetando sete estados das regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Ele afirmou, porém, que "Lei de Murphy existe". Segundo ele, este foi um problema conjuntural e o risco de faltar luz nesta terça-feira "é quase nulo". "Não vou dizer que não vá ocorrer. Mas esse risco é quase nulo. Seria o azar do azar", destaca.

Sameck explicou que houve avarias em duas usinas de grande porte - Angra I e Salto Santiago - justamente no horário de pico de consumo de energia, num dia de intenso calor. Acionada, a operadora teve de reduzir a capacidade de outras usinas para restabelecer o sistema.

Deve se repetir

Para o presidente da consultoria especializada Andrade & Canellas, André Crisafulli, o apagão deverá se repetir. De acordo com o especialista, o problema deixa evidente que o sistema nacional está sendo operado no limite e somente a redução do consumo pode evitar uma situação mais grave.

"Provavelmente houve falta de condições, em determinado local, de jogar no tronco afetado a energia na frequência necessária para manter o sistema", aponta André Crisafulli.

Por sua vez, Mário Veiga, da PSR Consultoria, afirma que a decisão de se fazer os cortes de energia elétrica foi tecnicamente correta, já que não havia reserva suficiente para manter todos os aparelhos de ar-condicionado ligados. É melhor um blecaute preventivo e organizado, diz, do que deixar o sistema elétrico de todo País entrar em colapso, o que poderia ter acontecido se o Operador Nacional do Sistema não tivesse ordenado os cortes.

Ele ressalta, entretanto, que a situação atual está acontecendo porque o governo federal tomou a decisão de não fazer uma poupança no ano passado, ou seja, optou por não preservar água nas hidrelétricas.

Elétricas arrastam bolsa para baixo

São Paulo. A Bovespa trabalhou toda a sessão de ontem em baixa, mas ampliou as perdas com o noticiário sobre apagão e redução da oferta de energia pelo País. As ações do setor elétrico despencaram e levaram a um movimento generalizado de vendas, ajudado pelo giro mais fraco por causa do feriado nos EUA.

O Ibovespa terminou em baixa de 2,57%, aos 47 758,01 pontos. Na mínima, marcou 47.503 pontos (-3,09%) e, na máxima, ficou em 49.009 pontos (-0,02%). Já no mês e no ano, acumula retração de 4,50%. O giro financeiro totalizou R$ 5,920 bilhões. CPFL ON caiu 7,30% e foi a segunda maior perda do Ibovespa. A lista tinha outras elétricas: Light ON (-6,59%), Cemig PN, (-6,38%), Tractebel ON (-6,31%). Copel PNB recuou 5,99%, Cesp PNB, 4,71%, Eletrobras ON, 3,92%, Eletrobras PNB, 4,26%, Energias do Brasil ON, 5,85%. A Petrobras também ampliou as perdas. A ação ON fechou em baixa de 3,79% e a PN, de 2,65%.

Já o dólar fechou em alta ante o real em um dia marcado por liquidez reduzida devido ao feriado nos EUA em homenagem a Martin Luther King Jr. Com os receios de que possa haver racionamento de energia no País, o dólar terminou o dia a R$ 2,65 no balcão, alta de 1,11%.

Saiba mais

Em quatro anos, país teve nove apagões

Em pouco mais de quatro anos, o Brasil enfrentou 9 grandes apagões. Os quatro últimos ocorreram por motivos variados, de curto-circuito a interferências que prejudicaram o funcionamento do sistema. Em relatório técnico divulgado na última semana, o ONS ressaltou que, havia risco de "perda de carga" durante a execução de intervenções.

Essas "contingências", teriam efeito local e não afetariam o Sistema Interligado Nacional como um todo Elas são, diz o ONS, reparos programados na rede por agentes de distribuição, geração ou transmissão, para que sejam feitos serviços na rede elétrica visando garantir a segurança dos equipamentos.

Informações do Diário do Nordeste



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