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Artigo | A boca maior que os olhos - Pádua Marques

Faz mais ou menos uns quinze dias, três coisas me chamaram a atenção e me deixaram encasquetado. As duas primeiras têm uma relação muito próxima. Eu vou ser bastante claro nas duas primeiras e se der tempo eu falo sobre a última, até porque acho que não vale muito a pena ficar esmiuçando coisa que vem do céu. Porque aquilo que vem do céu ninguém discute. Apenas toma cuidado pra não cair na cabeça. 

Um importante e acessado portal de Teresina está preocupado com a grande quantidade de jornalistas de portais em Parnaíba e em outras cidades ditas menores que não têm a mínima condição de exercerem a profissão. Tem portal, diz a nota, aliciando pessoas pra trabalhar como jornalistas sem a necessidade de diploma ou registro profissional regulamentado. Gente que não sabe escrever nem interpretar aquilo que vê ou ouve e muito menos tem cuidado com o que leva ao público.

Basta o camarada ter concluído o ensino médio, e olhe lá, pra ser contratado pra trabalhar como jornalista. Esta situação vem causando muita preocupação no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Piauí assim como na Delegacia Regional do Trabalho. O resultado prático dessa situação é a baixa qualidade do que vai pros portais, a televisão e consequentemente pra população em casa. 

Notícias altamente danosas pela carga de violência, exposição da miséria, desvios de conduta, cobertura de acidentes todo santo dia e outras coisas mais. E essa gente acha porque acha que está fazendo jornalismo de resultados, algo contribuinte pra o bem da sociedade. Tanto em portais, blogs quanto na televisão. E dos portais pros olhos e os ouvidos dos internautas e telespectadores é um alimento indigesto. Falta criatividade a esses ditos profissionais porque eles estão sempre indo pelo lado mais fácil, o sensacionalismo..

Tem muita gente, respeitadas as proporções e os propósitos, que desconhece ou faz a título de ser exclusivo, coberturas entrevistando bandidos, estupradores, ladrões e toda sorte de delinquentes sem se dar conta do mal que estão fazendo. Essa semana um repórter de televisão daqui de Parnaíba, durante a cobertura de mais um acidente na avenida Coronel Lucas, passou o seu precioso tempo correndo atrás do motorista do micro-ônibus tentando arrancar do coitado alguma declaração exclusiva. Tem gente que não conhece ou faz que não conhece as limitações entre ver, ouvir, apurar e divulgar.

Outra situação vexatória foi o que ocorreu da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros encontrarem um corpo já em estado de putrefação lá pras bandas da praia da Pedra do Sal. Toda a dita imprensa da Parnaíba correu pra lá em busca de cobrir e divulgar o ocorrido com riqueza de detalhes. Blogs, portais e televisão não perderam tempo. O estado em que se encontrava o cadáver não poderia e nem merecia ser exposto à curiosidade pública. Era um quadro chocante. Coisa de dar ânsia de vômito.

Mas alguns portais e equipes de televisão insistiram em ultrapassar a fronteira do que pode e do que não pode ser registrado. A perita criminal Marcela Sampaio bateu o pé e ordenou que todos se retirassem. Houve uma grita geral em nome da liberdade de imprensa, coação e ameaças. A perita estava e está certa. A dita imprensa ao tentar chegar mais próximo iria dificultar a atividade de investigação e além de, a pretexto de mostrar com riqueza de detalhes, expor um corpo desfigurado e que certamente, mesmo com todos os recursos de edição, causaria um impacto muito negativo dentro da casa do telespectador ou pra quem estivesse acessando os portais e blogs. 

Há necessidade de se ter mais cuidado com este tipo de notícia. Os olhos do repórter devem ver, mas a sua boca deve ser comedida ao falar aquilo que viu. A isso se chama ética. O repórter deve ter consciência de que seu trabalho está sendo uma peça diária de consumo, mas também não precisa ser tão ganancioso. Tem repórter que entrevista um bandido dando uma de delegado, crivando o sujeito de perguntas e até xingando e dando lição de moral! 

A última coisa que fiquei de contar: estava na praça da Graça sentado num daqueles enormes bancos cobertos de granito quando de repente senti uma coisa úmida cair na minha mão. Fiquei alguns segundos na dúvida entre olhar e ignorar. Mas enfim olhei e o que vi me deixou chateado e surpreso. Um passarinho, certamente um insolente pardal, achou de fazer sujeira justamente em cima da minha mão. Passados dois dias a situação se repetiu. Conversava com um amigo, Bernardo Silva e o passarinho veio de novo fazer serviço na minha calça. A gente precisa tomar cuidado.

*Antonio de Pádua Marques - Jornalista e Escritor


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