Nos meus tempos de criança e na época de minhas férias do grupo escolar que leva o nome de Epaminondas Castelo Branco, não sei se tio, avô ou pai do Zé Hamilton, meus pais me mandaram pra casa de uns tios na região de Araioses, atravessando a Barra do Longá e entrando de Maranhão de chão adentro. A gente saiu de Parnaíba num dia de tarde e na boquinha da noite estava lá na hora das criações tomarem o rumo do chiqueiro e as galinhas procurarem um galho pra se aninharem.
Foi uma experiência e tanto aquelas minhas férias a começar pela viagem em boleia de um caminhão e comendo poeira naquela estrada entre o Buriti dos Lopes e a Barra do Longá, terra dos Seixas, descendentes do famigerado Simplício Dias da Silva. Pra um menino nascido e criado em cidade grande, como sempre foi a Parnaíba, foram umas férias e tanto. Eu naquele meio de mato e escapulindo dos garranchos e dos buracos da estrada até que me saí foi bem. E tendo a vantagem de ser visto e apreciado por aquela gente humilde como um menino especial.
Já na casa de meus anfitriões, “seu” Zé Martins e dona Antonia, dois dias depois me veio um convite pra conhecer uma casa de farinha. Pela manhã veio pela vereda que dava acesso à casa uma carroça puxada por um burro novo e conduzida por um menino, já ficando rapazinho, de uns treze pra quatorze anos. Da gente da casa foram tomando assento as mulheres que fariam a raspagem da mandioca e algumas crianças pequenas, dessas que não se pode descuidar o olho porque acabam fazendo malinação quando ficam sozinhas em casa.
E fomos nós entrando de mata adentro no rumo da casa de farinha. Lá chegando fui apresentado aos donos da casa como menino da Parnaíba, estudante do terceiro ano primário, primeiro lugar em tudo quanto era matéria e estudante do catecismo na igreja de São Sebastião. Fiquei assim todo ancho, me sentindo importante e até de certa forma incomodado com toda aquela sala que fizeram pra mim. Mas antes, no trajeto entre a casa de minha hospedagem e a casa de farinha, ocorreu um fato que nunca mais deixei cair no esquecimento.
A carroça com toda aquela carga de gente e de trens pra farinhada acabou não cabendo na bitola da vereda. E foi um reboliço dos diabos pra saber o que iria ficar em cima da carroça e o que desceria pra dar folga. E o rapazinho se pôs a bater no animal com toda a força do braço. O burro, a cada tentativa de colocar ordem naquela bagunça, achou de achar de ser inteligente e se pôs a dar coices pra tudo quanto era lado. Não queira saber a confusão que é um burro enfezado com uma carroça no lombo e um monte de trens e de gente em cima gritando e cada um dizendo que é desse ou daquele jeito. Pois não é que o diabo do burro acabou quebrando a carroça em quatro bandas?!
Pois é desse jeito que acaba de acontecer com Waldir Maranhão, deputado federal e também mais enrolado que rolo de fume de Arapiraca. Vice-presidente da Câmara dos Deputados e no exercício da presidência no lugar antes ocupado por Eduardo Cunha, Waldir Maranhão acabou metendo as patas de trás no lugar das patas da frente. Fez o jogo do Palácio do Planalto e foi na conversa da Advocacia- Geral da União, que anda defendendo a presidente com uma lealdade de cachorro vira-lata. Desse jeito fica difícil prevê no que vai dar esse final de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e que tenta retirar o quanto antes a carroça do governo dessa vereda estreita do descontrole.
Pádua Marques - Escritor e Jornalista
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