Voraz, como
sempre, um lobo, estando a comer, engoliu um osso. Ficou-lhe este atravessado
na garganta, e o sufocava. Nesta aflição viu ele uma garça de compridíssimo
pescoço, e suplicou-lhe que lhe valesse, prometendo mundos fundos, se lhe
arrancasse o osso da goela. Compadecida a garça o fez. Livre o lobo recusou
dar-lhe o que prometera. Ingrata, não vês que és tu que me deves retribuir a
generosidade; dentro da minha boca esteve a tua cabeça, podendo apertar os
dentes, deixei que te safasses! e queres paga! A garça calou-se: o que havia de
fazer? Emendar a mão, e nunca valer a lobos.
MORALIDADE: Quantos na hora dos
apuros tudo prometem aos homens, aos santos, a Deus e depois esquecem o
prometido, e zombam de quem neles se fiou.
Fonte: ROCHA,
Justiniano José da. Fábulas (imitadas de
Esopo e La Fontaine)