
Nós nos psicoadaptamos ao celular, ao carro, ao tipo de roupa, à decoração de nossa casa, aos conceitos, aos paradigmas sociais. Assim, perdemos o prazer e procuramos inconscientemente novos estímulos, novos objetos, novas idéias. Só conseguimos voltar a ter prazer se reciclamos nossa capacidade de observar e valorizamos detalhes não contemplados.
No aspecto positivo, a psicoadaptação gera uma revolução criativa. Nos estimula a procurar o novo, amar o desconhecido. Ela é um dos grandes fenômenos psicológicos inconscientes responsáveis pelas mudanças nos movimentos literários, na pintura, na arquitetura e até na ciência.
Todavia, quando a psicoadaptação é exagerada, ela gera insatisfação crônica e consumismo. Nada agrada prolongadamente. As conquistas geram um prazer rápido e fugaz. Aqui está uma das maiores armadilhas da emoção. Por isso, não é saudável que os pais dêem muitos presentes para os filhos. Eles se psicoadaptam ao excesso de brinquedos. O resultado é maléfico! Consomem cada vez mais coisas, mas obtêm cada vez menos prazer.
Outra grande armadilha da emoção é a psicoadaptação às violências sociais, aos ataques terroristas, à competição no trabalho, às brigas conjugais, aos fracassos profissionais, a depressão, pânico, ansiedade. A conseqüencia? Perdemos a capacidade de reagir. Nesse caso, o homo sapiens se torna um espectador passivo de suas misérias. Este é um assunto para vários livros. Espero que o leitor perceba que nossa espécie está adoecendo coletivamente.
Muitos psicólogos e cientistas sociais, por não compreenderem esse processo inconscientemente, não entendem que com o tempo os problemas psíquicos e sociais deixam de excitar a emoção. Este processo nos algema, destrói a capacidade de lutar pelo que amamos. Há pessoas que arrastam sua depressão, timidez e insegurança a vida toda por causa disso.
Será que você não está psicoadaptando à falta de diálogo na família, à dificuldade de conquistar um aluno difícil ou um colega de trabalho complicado?
Muitos soldados alemães perderam a sensibilidade à medida que se submetiam à propaganda nazista e observaram passivamente os judeus morrendo nos campos de concentração. As consequências da psicoadaptação são inúmeras e extremamente complexas.