O despertador toca. Mal você acorda e já confere e-mails, Twitter, Instagram e Facebook. Em seguida, escova os dentes ouvindo música e prepara ovos fritos usando uma receita online. Antes de levar seu filho para a escola, ainda consegue fazer um "selfie" com ele no elevador para mostrar para os amigos. Tudo isso por uma pequena tela de quatro polegadas que ainda serve para fazer ligações telefônicas. Mas como seria sua rotina sem esse dispositivo?
Basta voltar 30 anos, quando surgiu o Motorola Dynatac 8000X, telefone que custava US$ 3.995 (cerca de R$ 9.400). Se você reclama dos 140g do iPhone 5s e da baixa autonomia da bateria, saiba que antes era bem pior. O Dynatac pesava "apenas" 794g, tinha 33cm de altura e a bateria não durava mais do que 30 minutos. E ainda assim, o "pequeno tijolo" - como foi apelidado pelos desenvolvedores - chegou a vender 300 mil unidades em um ano.
Hoje, no Brasil, a quantidade de celulares ativos já superou o número de habitantes. A estimativa é de que haverá 50 bilhões de aparelhos ativos em todo o mundo até 2020, conforme relatório da Cisco, empresa especializada em soluções de redes. No início dos anos de 1980, o termo "aparelho celular" era comum. Porém, era usado para designar o aparelho utilizado dentro de veículos - que tinha uma bateria muito pesada, impossível de ser carregada. Pensando assim, o revolucionário aparelho da Motorola representava um artigo de luxo. O Dynatac foi o primeiro a trazer a tecnologia que resultou no fim dos aparelhos para carros e na chegada dos aparelhos pessoais.
De março de 1984 até hoje, muita coisa mudou. Na época, as redes de telecomunicações ainda estavam em período embrionário. Hoje, estão presentes até em pontos remotos do planeta e têm conexões sem fio que permitem baixar um filme de 800MB em 40 segundos - como é o caso da rede na Coreia do Sul.
No Brasil, o primeiro telefone "móvel" comercializado foi o Motorola PT-550, por volta de 1986. O modelo, além de menor que o pioneiro da marca, já era bem mais avançado: tinha identificador de chamadas, agenda eletrônica e design que continha um "flip" que protegia as teclas do aparelho. A evolução na bateria não foi muito grande. A carga não suportava duas horas de ligação. O celular era vendido por US$ 3 mil - quase R$ 7 mil.
Disseminaçãodo uso leva à 'nomofobia'
Quem nunca esteve presente em uma roda de amigos e um deles fica boa parte do tempo checando informações no celular? Saiba que isso pode ser um problema: a nomofobia (abreviatura do inglês "no mobile"). Ela é caracterizada pelo desconforto e angústia, ou seja, fobia de ficar incomunicável, sem o aparelho celular. Outra síndrome que pode ser desenvolvida é a síndrome da vibração fantasma, que consiste na pessoa achar que o celular tocou ou vibrou sem que isso tenha ocorrido.
O maior prejuízo dessas síndromes é o isolamento social e afetivo, já que não é possível estabelecer uma conversa normal, pois sempre há interrupção do celular. Para o psicólogo Marcelo Salgado, a dependência digital pode ser comparada à dependência alcoólica.
Abstinência
"Os psicólogos consideram a dependência digital dos jovens e adultos como um transtorno compulsivo-impulsivo. É muito comum, durante um período de abstinência, o descontrole emocional do viciado, que pode ficar agressivo", explica. No tratamento, Salgado afirma que a família é parte central na cura da dependência. "A conivência dos pais, a falta de limites, dificultam o tratamento psicológico", diz.
Para evitar problemas como esses, o especialista em telefonia móvel Edson Almeida preferiu abolir o uso de celular. "Eu consigo viver sem celular. Apesar de trabalhar com celulares, me preocupa a questão da banalização do aparelhos. Sou uma pessoa que aboliu o celular e sou cobrado pela sociedade".
Primeiro no Ceará
Já no Ceará, o PT-550 chegou no ano de 1989, vindo dos EUA. Na época, os celulares eram chamados de Microtac devido o seu tamanho "reduzido". Mas ainda não dava para guardar o PT-550 no bolso. Como a tecnologia era analógica e não havia rede suficiente, o usuário pagava tanto a tarifa de ligação efetuada quanto a das chamadas recebidas.
Nos anos seguintes, o que os usuários puderam acompanhar foram evoluções drásticas no desenho, passando por aparelhos de apenas 10cm até chegar nos chamados celulares inteligentes (os "smartphones"), com mais memória interna, processadores com desempenho similar ao dos PCs de mesa, telas melhores e sensíveis ao toque. Da Motorola à Nokia, passando depois pelo reinado do BlackBerry (RIM), os usuários foram conhecendo diferentes modelos. Hoje, após a ascensão da Apple e da Samsung, chegamos à era dos "phablets" - uma mistura de tablets e smartphones. Com tantas possibilidades, fazer ligações tornou-se algo secundário. Para o pesquisador Edson Almeida, professor e coordenador do curso de Engenharia de Telecomunicações do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), o que mudou nos últimos 30 anos foi a apropriação do uso de celulares.
"Hoje, a coisa menos importante é a comunicação via voz. O mais importante, agora, é o acesso à internet. A voz fica em segundo plano em função das facilidade de acesso, uso de fotos, redes sociais, rádio e música", afirma. Para Almeida, os celulares mais modernos irão substituir velhos amigos de mesa. "A evolução está mostrando que ele vai continuar sendo um prestador de serviço e eliminar os computadores de pequeno porte", projeta.
Tecnologias como a nanofibra, supercapacitores de grafeno e memristor podem levar a telefonia celular a patamares inimagináveis, como a flexibilidade, a reprogramação de interface e integração com a pele humana. Até lá, a sua rotina matinal será alterada diversas vezes.
Fonte: Diário do Nordeste
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