O pesquisador Athayde Motta, que se dedica há quase vinte anos ao estudo de
questões raciais no Brasil, vê problemas na campanha que inundou as
redes sociais do país desde o último domingo.
Ele considera
positivo o fato de jogadores de futebol responderem publicamente aos
racistas que os atacam em campo. Mas acha que o reforço da associação da
figura da pessoa negra com o animal macaco é ruim na luta pela
igualdade racial.
"O perigo é você, querendo fazer o oposto,
reforçar o estereótipo de que negros e macacos são, de alguma maneira,
similares", afirma o pesquisador. "Essa associação não é a melhor. O
excesso de humor pode afetar o resultado da campanha, esvaziar a
discussão."
Em um país onde a maioria dos negros ainda sofre com
ofensas racistas cotidianamente, a ligação com o macaco continua sendo
potencialmente ofensiva, avalia Motta. "O processo de ressignificação
desse termo não é tão simples assim."
Desde domingo, assim que o
lateral Daniel Alves, da seleção brasileira e do Barcelona, respondeu a
um insulto comendo uma banana atirada em campo, uma onda de
solidariedade tomou conta da internet.
O atacante Neymar postou foto com uma banana ao lado da hashtag #SomosTodosMacacos.
Seu gesto foi repetido por artistas, celebridades e pessoas comuns (em grande parte, brancas) que embarcaram na campanha.
Não demorou para alguém tentar explorar a solidariedade alheia e,
assim, o apresentador da TV Globo Luciano Huck, dono de uma grife de
roupas, começou a vender camisetas com a frase estampada por R$ 69.
A ideia é ridicularizar os racistas e tirar a carga ofensiva da associação entre negros e macacos.
Mas os críticos da campanha começaram a responder no final da tarde de
segunda-feira. O rapper paulistano Emicida, negro, publicou em seu
Twitter que não é um macaco. "As pessoas que são humilhadas no dia a dia
por racistas que permanecem impunes também não."
A ativista
Camilla Magalhães Gomes, branca, escreveu no Facebook: "Não somos todas
travecos. Não somos todos macacos. Não somos todos boiolas. Não somos
todas vadias. Não posso pretender subverter o uso de um termo que nunca
foi usado de forma violenta contra mim."
Athayde Motta, que está
terminando um doutorado na Universidade do Texas, comemora que a
questão racial esteja sendo discutida de maneira mais ampla, "ainda que a
mensagem não represente necessariamente uma mudança na forma de pensar.
O ideal é que você não associe negros a animais dessa maneira,
selvagem, primária, que é o que o racista que joga banana no campo faz.
Tem que ter cuidado."
Para ele, medidas mais duras como a tomada
pelo Villarreal, que baniu o torcedor que atirou a banana pra sempre,
são mais efetivas no combate ao preconceito nos gramados.
Fonte: Uol Esporte / Adriano Wilkson
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