Por Marcello Silva
Se vivo fosse, o dramaturgo e
cronista Nelson Rodrigues, completaria em 2014, 102 anos de idade. Na crônica “O grande sol do escrete” publicada em
1970, Nelson Rodrigues citou o poeta Rainer Maria Rilke para afirmar o “que
chamamos glória é a soma de mal-entendidos em torno de um homem e de uma obra”.
Parecia antecipar o próprio epitáfio. Nelson foi e é criticado e aclamado por
sua obra.
Dentre a vasta obra
“rodriguiana”, Nelson Rodrigues ganhou notoriedade como cronista esportivo. Lendo
suas crônicas em “A sombra das chuteiras
imortais” e na “A pátria em chuteiras”,
fica visível, quase gritante a sua paixão por futebol, especificamente o
futebol nacional e em especial a seleção brasileira. Era de um patriotismo
futebolístico excepcional e imensurável ao ponto de afirmar que a seleção
brasileira de futebol era a pátria em cauções e chuteiras ou que “A Primeira Missa, de Portinari, é
inexata. Aqueles índios de biquine, o umbigo á mostra, não deviam estar na
tela, ou por outra: - podiam estar, mas de calções, chuteiras e camisas
amarelas”.
Tempo bom o seu, caro Nelson.
Onde o futebol era arte, era puro, quase divino. À tua época desfilaram os
maiores craques da história do nosso futebol. De fato, encantamos o mundo com
nossa arte, garra e ginga futebolística. Porém, com o tempo muita coisa mudou:
hoje, o futebol tem novas faces, novo interesses; nossos jogadores já não jogam
por amor à camisa, se tornaram estrelas comerciais e milionárias; nossa seleção
virou moeda de troca de interesses pessoais. A política se infiltrou no nosso
futebol e a corrupção manchou nosso brilho. O futebol em si, se tornou
conceitual, jogar bonito virou exceção, ofensa, quase um sacrilégio, onde essa
arte é interpretada como falta de respeito ao adversário, levando nossos
craques a serem caçados em campo como uma jaguatirica nas matas brasileiras.
Fico imaginando quão imensurável
seria tua alegria, senhor Rodrigues, com esse mundial de futebol aqui no
Brasil. O futebol de volta para casa, o filho pródigo dos terrenos baldios. Há
hora mais oportuna e feliz para um patriota que ama futebol? Deveras. Esse
mundial, com seus gastos exorbitantes, vem na hora errada. Torna-se ridícula a
realização desse evento mediante as urgentes necessidades básicas dos
brasileiros. Temos outras prioridades: temos ‘Garrinchas’ morrendo em
corredores de hospitais; temos ‘Pelés’ sem trabalho morando debaixo de
viadutos; temos ‘Fredes’ e ‘Neymares’ sem escola pedindo esmola nos semáforos
ou assaltando á mão armada. Há ‘Antônios’, ‘Marias’ e ‘Terezas’ esperançando
dias melhores. Tão quanto circo eles querem pão.
Apesar dos contrários e
incertezas, o brasileiro é um otimista. Nunca ouvir falar de um povo tão forte.
Ele acredita no futebol, na seleção e, principalmente, na pátria Brasil. Tenho que
concordar com Sr. Nelson Rodrigues: “... homem brasileiro, que é sim, o maior
do mundo. Hoje, o Brasil tem a potencialidade criadora de uma nação de
napoleões”
Marcello Silva. Chaval/CE, abril
2014
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