Bom dia amigos leitores, estamos de volta na nossa série "Poesia de Quinta" para vos apresentar o poema intitulado "Amor é fogo que arde sem se ver" de Luís Vaz de Camões que é apontado, por muitos críticos, como o maior poeta de língua portuguesa, já outros preferem Fernando Pessoa.
Escrito em 1595, "Amor é fogo que arde sem se ver" é um soneto, ou seja, é
composto por 14 versos decassílabo, desenvolvido em dois quartetos e
dois tercetos, se apresenta no estilo mais utilizado por Camões: o
Lírico. Apresenta-se em enunciados opositores, se contradizendo em cada
verso. Um fator interessante desse poema é seu início com a palavra AMOR
em destaque e seu fim, ressaltando o caráter contraditório da temática.
Neste poema, Camões procurou conceituar a natureza contraditória do
amor. Não é um tema novo. Já na Antiguidade, o amor era visto como uma
espécie de cegueira, uma doença da razão, uma enfermidade de consequências às vezes devastadoras. Nas cantigas de amor medievais, os
trovadores exprimiam seu sofrimento, a coita, provocada pela desorientação das reações do artista diante de sua Senhora, de sua Dona.
O poeta buscou analisar o sentimento amoroso racionalmente, por meio de
uma operação de fundo intelectual, racional, valendo-se de raciocínios
próximos da lógica formal. O sentir e o pensar são movimentos antagônicos: o sentir deseja e o
pensar limita, e, como o poeta não podia separar aquilo que sentia
daquilo que pensava, o resultado, na prática textual, só podia ser o
acúmulo de contradições e paradoxos.
O POEMA
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
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