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Livro de Sexta | Cenas da Vida Amazônica

Bom dia. Hoje na nossa série "Livro de Sexta" apresentamos o Livro "Cenas da Vida Amazônica" do escritor brasileiro José Veríssimo. A análise é de Rafael Teodoro*

Há algum tempo uma grande editora do País convidou escritores brasileiros para que fizessem uma espécie de “residência” em algumas cidades e, a partir dessa experiência, produzissem ficção. Naturalmente, as cidades escolhidas foram lugares como Praga, Buenos Aires, Sidney, Dublin, etc. O resultado foram livros — alguns bons, outros ruins — que retrataram o amor na perspectiva multicultural da classe média que viaja pelo mundo. O amor que é “chique”.

Penso que bem mais interessante teria sido — inclusive do ponto de vista do desafio da criação literária — se esses mesmos escritores tivessem sido convidados a fazer sua “residência” em cidades do interior mais remoto do Brasil. Que histórias de amor se escondem nos rincões deste país imenso e maravilhoso que é o Brasil? Com que peculiaridades o amor se apresenta nas cidades da Amazônia, do Pantanal, do Cerrado?
Lamentavelmente, tirando a mim e talvez um ou outro gato pingado, a proposta não vingaria. As editoras presumem que esse regionalismo multicultural não interessa ao leitor brasileiro. Numa palavra: esse tipo de literatura não vende.

Apesar disso, faço gosto em exercer o papel de “advogado do diabo” e recomendar ao leitor o conjunto de contos apresentados em “Cenas da Vida Amazônica”, de José Veríssimo. O escritor, que nasceu em Óbidos, interior do Pará, foi um dos principais intelectuais do seu tempo, desenvolvendo intensa atividade no campo das letras, ora como crítico literário, ora como ensaísta, ora como ficcionista, ora como pioneiro historiador da Literatura brasileira.

Expoente do movimento naturalista, José Veríssimo, ao lado de Inglês de Sousa, integra a lista daqueles autores brasileiros clássicos que impulsionaram o regionalismo literário amazônida. Sua obra, assim, propunha-se a fotografar as peculiaridades do modo de vida das populações locais em sua relação com a natureza.

“Cenas da Vida Amazônica”, publicado pela primeira vez em 1899, é produto dessa faceta de ficcionista de Veríssimo, autor de obra tão pujante quanto desconhecida. Em contos como “O Boto”, “O Crime do Tapuio”, “O Lundum”, o leitor poderá conhecer um pouco mais desse “Brasil que não é chique”, que é o Brasil dos povos da floresta, da vida na Amazônia, distante dos grandes centros urbanos.

Fonte: Revista Bula
Rafael Teodoro é advogado, crítico de música e literatura.

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