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Cinema: Memória, regionalismo e artes marciais no filem "Shaolin do Sertão"

Os elementos são os mesmos. Memória, regionalismo e as artes marciais, além do humor, estão embrionados na produção do cineasta cearense Halder Gomes e não poderiam abandonar seu novo trabalho. “O Shaolin do Sertão”, que começará a ser gravado no segundo semestre deste ano, remete a “Cine Holliúdy” (2013), filme que surpreendeu o próprio cineasta e galgou projeção nacional.

No entanto, preocupado com comparações e confusões, Halder adverte: “A história não tem nada a ver com o Cine Holliúdy. A continuação do Cine vai existir, mas não é o Shaolin”.

Parecido, porém diferente. O enredo ratifica a afirmação insistente de Halder. Seu antigo filme se passa na década de 70. “O Shaolin do Sertão” pula uma década, situando a história no interior cearense dos anos 80, a partir de outro capítulo marcante na história dos seus moradores. “‘O Shaolin do Sertão’ vai resgatar outro momento histórico, que foi vivido por muitas pessoas – o período em que os lutadores profissionais de vale-tudo, que teve um berço muito forte no Nordeste, por falta de lutas profissionais, iam para o Interior desafiar os valentões da cidade”, conta o cineasta.

A chegada de lutadores profissionais famosos em toda a região movimentavam as pequenas cidades e divertiam populações carentes de eventos. “Aquilo causava não só o entretenimento como também uma tensão, um tumulto, e mexia com o brio dos valentões. As pessoas se atiravam naquela onda de defender a honra da cidade. A ‘mão de peia’ comia mesmo”, completa Halder, no bom “cearês” – isto é, o vocabulário próprio do cearense, popularizado nacionalmente por seu último filme.

“As lutas fazem parte das minhas memórias. Eu vi aquilo ali acontecer na minha pré-adolescência, foi marcante. Aquilo me assustou”, relata Halder.

Além das lembranças, filmes protagonizados pelo chinês Jackie Chan, o “mundo fantástico” do Kung Fu Panda e a luta mexicana representada em “Nacho Libre” também compõem o leque de influências do diretor cearense.

Outro ingrediente indispensável na sua salada é o humor, ingênuo e perspicaz.

Em meio a um enredo rico em história e cenas de luta, Halder promete que a boa risada não vai faltar.

Gravações

“O Shaolin do Sertão” é mais um projeto em conjunto do cineasta com o ator, também cearense, Edmílson Filho. As distribuidoras Downtown Filmes e Globo Filmes também confirmaram o apoio na empreitada. O filme já foi aprovado pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) e “o roteiro está maduro para ser filmado no segundo semestre de 2015”, afirma Halder. O diretor prevê o lançamento do longa para o início de 2016. Além dos acertos financeiros que ainda precisam ser feitos, o atraso no início das gravações, no Interior do Ceará, tem o propósito estético. Segundo o diretor, o período de gravação irá coincidir com a estiagem no Sertão. Com isso, a paisagem estará mais seca, mais monocromática e permitirá que outras cores se ressaltem.

Antes de ocupar o sertão nordestino, a equipe de produção e o elenco deverão fazer escala em Hong Kong, na China, para filmar o universo fantástico dos sonhos do personagem de Edmilson, Aluízio Lee – como gosta de ser chamado.

A luta

O novo filme de Halder Gomes reflete uma de suas facetas: a relação com as artes marciais. “Apaixonado por luta desde criança”, como se define, ele treinou Kung Fu, Taekwondo, Jiu-Jitsu e Boxe, e foi técnico, dono de academia e dirigente, no mundo da luta.

“A luta sempre fez parte do meu universo, seja imaginário quando criança, seja como profissional na fase adulta. Hoje, ela, para mim, continua sendo um pilar de equilíbrio físico e emocional, mas também uma referência muito forte no cinema”, conta. O esporte influenciou, por exemplo, na direção de “Sunland Heat: No Calor da Terra do Sol” (2004) e de “Cine Holliúdy”.

A experiência com a luta ainda permitiu a Halder conhecer o parceiro de desafios no cinema, Edmilson. O ator, que também tem a vida acompanhada pelas artes marciais, foi iniciado no Taekwondo na academia de Halder, em 1993.Em “O Shaolin do Sertão”, o protagonista Aluízio Lee sonha em ser um grande lutador. Quando um profissional da luta aparece e cria um alvoroço na cidade, Aluízio agarra a oportunidade para mostrar o seu talento e encara o desafio.

Para vivenciar o personagem, o ator Edmílson Filho deve passar por uma preparação especial, com direito a dieta, perda de peso e o acompanhamento de um coreógrafo. “Quero trazer algum profissional de Los Angeles que trabalhe com coreografias de luta, para que a gente possa desenvolver essa coreografia lá, treinar, e trazer essa pessoa para o set para estar comigo e poder trabalhar isso da melhor forma”, revela o diretor.

“O cinema é muito caro, então não podemos fazer a mesma coreografia 300 vezes. Tem que ser muito ensaiado antes”, comenta Edmilson. Para ele, no entanto, o “maior desafio” do ator está na ligação que o público e mesmo ele podem criar entre Aluízio Lee e o seu antigo personagem, o Francisgleydisson, de “Cine Holliúdy”. Em comum, os dois carregam fortes características regionais e o amor pela luta.
Informações do Diário do Nordeste


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