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"Amnésia eleitoral": por que 6 em cada 10 cearenses esquecem o voto para deputado e senador


Antes mesmo de senadores, deputados, governadores e presidentes encerrarem seus mandatos, um mal atinge a maioria dos cidadãos responsáveis por eleger esses mandatários: a “amnésia eleitoral”. Essa constatação foi reforçada, ao menos no Ceará, em pesquisa realizada entre os últimos dias 9 e 14 de fevereiro. O levantamento mostrou que 6 em cada 10 cearenses não se lembram dos votos que deram para eleger parlamentares no Estado.

A pesquisa, realizada pelo Instituto Opnus, entrevistou de forma presencial domiciliar 2,2 mil pessoas em 101 municípios cearenses. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, já o intervalo de confiança é de 95%.

Ao todo, 58% das pessoas entrevistadas não recordaram dos votos distribuídos no pleito de 2018 para os cargos legislativos – que incluem senadores, deputados federais e estaduais. 



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UM PROBLEMA HISTÓRICO

Para o cientista político Cleyton Monte, que também é professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), os motivos que levam a esse esquecimento são históricos e variados.

“O primeiro deles é que, no geral, os partidos políticos no Brasil são fracos, eles não criam uma identificação com a população, mas, além disso, tem o formato das propagandas eleitorais, a oferta grande de candidatos e o próprio sistema de votação proporcional no Brasil, tudo isso gera essa crise de representatividade”, lista.

O pesquisador ressalta ainda que o Legislativo é visto com maior desconfiança pela população. “É um poder muito associado à corrupção, então as pessoas se sentem desestimuladas a acompanhar essa atuação parlamentar”, acrescenta.

QUEM LEMBRA MAIS?

Conforme a pesquisa, uma das maiores diferenças entre os segmentos daqueles que sofrem com "amnésia eleitoral" está na escolaridade. Eleitores com ensino superior conseguem lembrar com mais frequência dos votos que deram se comparado aos menos escolarizados.

Percentualmente, 57% da população diz se lembrar de ao menos um voto dado para a eleição parlamentar há pouco mais de três anos. Entre a fatia do eleitorado que tem até o ensino fundamental, esse índice cai. Só 35% desse grupo lembra das escolhas na urna.

A diferença também é discrepante em dois outros segmentos: por gênero e por faixa etária. De cada 10 homens, cinco disseram lembrar em quem votaram para deputado ou senador. Já entre as mulheres, o voto dado em 2018 parece ter sido menos marcante. Entre as entrevistadas, só 34% responderam que lembram de ao menos uma escolha nas urnas.

No caso da faixa etária, os mais jovens são mais “esquecidos”. Nos grupos que incluem eleitores de 16 a 24 anos, mais de 60% da população não se lembra em quem votou.

EDUCAÇÃO ELEITORAL

De acordo com Monalisa Soares, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem), todo esse distanciamento do eleitor com seus representantes é preocupante e em nada contribui para melhorar o ambiente político nacional.

“Esse é um fenômeno grave e a gente precisa atingi-lo em duas dimensões: na educação, do ponto de vista geral, porque ela contribui para o entendimento da política, mas também na informação do que é o sistema político e como ele afeta a vida das pessoas, no Executivo e Legislativo. O eleitor que não sabe em quem ele votou não pode acompanhar o que esses políticos fazem, tanto para o bem quanto para o mal”, aponta.

Conforme apontado pela pesquisadora, a maior lembrança do voto por parte da fatia da população mais escolarizada reforça a importância da educação política.

“Esse eleitorado mais escolarizado se vincula mais com esse processo político-eleitoral. Ele tem mais atenção. Não é só entender que a política se faz só nos cargos do Executivo, mas também nesse outro ambiente que é o Legislativo, que elabora as leis. Esse eleitor mais escolarizado tem mais informação de que a política se faz em vários ambientes”, conclui

Fonte: Diário do Nordeste 


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