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Nota de Falecimento | Sr. Santil


Caro(a) leitor(a) peço sua permissão para deixar de lado o texto protocolar e falar um pouco sobre a pessoa do falecido que é avô paterno deste editor que vos digita. Assim, apresento-vos Antônio José dos Santos, vulgo Santil, nascido no dia 30 de agosto de 1930 na zona rural chavalense. Fixou moradia e viveu desde a década de 70 na Comunidade Poção, seu ultimo reduto.

Santil não fundou Chaval, não foi prefeito, não ganhou medalhas, Nobel ou algo assim que o amigo leitor espera por tal nota. Santil, agricultor desde o útero de sua mãe Joselina, que passou fome, que não conheceu a escola e, no entanto, foi capaz de deixar uma herança imensurável, que não cabe nos cofres, que vaza dos palácios, que peso ou papel-moeda algum é capa de se equipará: Santil foi integro, honesto e promoveu alegria por onde passou. Seu legado não será um nome de rua, uma estátua danificado com o tempo, mas estará presente em cada descendente que entender o porquê que Santil existiu neste plano, senão trazer uma mensagem de retidão, alegria e respeito com o próximo. Em meu livro "Na Garganta Um sertão Enjaulado" dediquei-lhe estes versos:

(...)


Antônio Santil foi clandestino por tantas terras secas e cercadas de arame farpados
com bússola no peito, vento é voz de Deus
seguiu por tantos nós entre nós desamarrando cancelas
carcarás arredios
andorinhas no arrebol
mil milhares de Antônios, Marias, Josés sem uma casa de taipa

(...)

braços fortes deitava as catingueiras e catanduvas na foice
aceiro varia, domava o fogo na limpa
solo pronto cerca de madeira costurada a braço
tudo pronto chover esperar
chegar janeiro e plantar esperança
arroz, feijão, mandioca, milho
melão, melancia, pepino, gergelim
cabaça, cana e ainda se sobrar espaço
planta-se um sonho de menino que espia da porteira o movimento de homens e chapéus


(...)

todo sertanejo é antes de tudo sertanejo
face esquia, corte na testa
sangue no braço, cansaço na perna
e ao findar um sorriso explode
tão verdade que Deus mora ali
entre os dentes falhos e nacos de rapaduras

(...)

Deus é sertão
depois do primeira chuva
o cuscuz de milho, moinho, peneira. O pão é caro
um quilo de suor
na face triste do olhar vazio do homem-fera.

(...)

E por fim, que Santil, guiado pela Grande Luz, retorne ao lar após cumprir com primazia sua missão neste plano. Fico triste pela ausência e pela perda, mas feliz pela oportunidade de conviver e assim beber um pouco de tanta sabedoria desse ser iluminado que aqui esteve. Até qualquer instante, Santil. 

P.S. Santil faleceu de causas naturais. O enterro será amanhã, (11) no cemitério da comunidade Poção, zona rural de Chaval/CE.




Marcello Silva.



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