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CARTA ABERTA - SEPULTUS RATIO (Morte da Razão) | Maicon Gabriel da S. Morais




CARTA ABERTA 

SEPULTUS RATIO (Morte da Razão)

03.10.22 

Ontem foi a festa da democracia, acordei para me apresentar como mesário voluntário para as eleições de 2022. Nós, por questões técnicas de orientação, votamos primeiro para não causar atraso para os eleitores que estariam por vir. Em minha seção havia mais de 280 votantes aptos (é de fato público). Votei com convicção em meus representantes, naqueles que conhecia sua vida política, seus atos, manifestações e trabalhos. Porém, pela primeira vez senti um peso sob meus ombros, um peso real, um sentimento ruim e negativo, principalmente quando os números iam sumindo cada vez mais. E para mim, ali, não significava apenas votar num ou noutro. Por tudo o que estava sendo representado, por tudo o que era ou devia ser, pelos grandes esquemas de corrupção, negligência, omissão ou conivência, não era um espaço agradável. Não sentia esperança no Brasil com a dicotomia que ali se apresentara. Senti uma hostilidade no ar, parecia sutil, e após votar respirei muito fundo e arfei. Me senti preocupado, receoso. Sem manifestações sobre esse meu pensar, pois ali não cabia a mim. Minha função pedia neutralidade. Terminada as apurações fui ao Fórum, juntamente com o presidente da seção. O perguntei sobre como eu havia me saído, nosso trabalho e o clima dessas figuras políticas.
Quando cheguei vi alguns resultados. Fiz questão de não saber durante o processo. Em uma rede social vi um amigo que tanto tenho respeito e admiração postar a seguinte frase "Tenho vergonha de ser brasileiro", aquilo me fez reflexivo. Será que ser brasileiro é motivo de vergonha? Perguntei para minha namorada se ela tinha vergonha de ser brasileira, ela disse que às vezes sim. O que de fato faz uma pessoa ter vergonha de sua nação? De sua pátria? Eu não sou patriota, na verdade não atribuo essa alcunha a mim, principalmente pelo o que ela representa hoje. Mas sim, tenho afeto pelo meu Estado, por sua literatura, arte, comida, conquistas e potência. O Brasil é "Gigante pela própria natureza", essa frase é autossuficiente. Mas o que estamos fazendo? Pelo o quê? Bolsonaro nunca geriu nada em sua vida. Um dos mais ociosos e vulgares políticos do Rio de Janeiro, nem mesmo suas causas, como a dos militares, fez coisas relativamente significativas. E potencialmente insignificantes. Nós, brasileiros, o votamos pelo o quê? Por ser honesto? Nunca foi. Envolvido com esquemas de cartão corporativo, benéfices políticas, gasolina, para além de seus envolvimentos com funcionários fantasmas e as ditas "rachadinhas". Idôneo ele não é. E digo isso sem orgulho algum, ou muito menos para atacar sua preferência política. Digo isso com tristeza, com pena, com remorso. Que moral se governa um Estado quando você é conivente para as estruturas que são coniventes à corrupção? Toda vez que se chega perto do atual presidente ou de sua família, faz atos de desvio de funcionalidade. Que em resumo bastante simplório, e entre outros, parar as investigações de todo o país em prol de salvar seus filhos por escândalos de corrupção. De todo o país.

E como fica nossas relações com a comunidade internacional?
Recentemente o atual presidente da república participara de um evento em um dos principais prédios da ONU (Organização das Nações Unidas), nos Estados Unidos. No mesmo dia (20/09/22) ocorreu uma projeção na parede do prédio principal com seu rosto e várias frases como “mentira”, “vergonha” e “desgraça”, nas principais línguas econômicas do mundo, sendo: mandarim, inglês, francês, espanhol e português. E “Brazilian shame” (vergonha brasileira). Assim que a Comunidade Internacional nos olha. Existe orgulho em dizer isso? Existe patriotismo que cegue isso? Tenho a ciência que Bolsonaro foi um voto de protesto em 2018, assim como Luiz Inácio é hoje. Há uma frase que resume bem Luís Inácio, seria "para o bem ou para o mal", e esta frase vi no livro de história de minha irmã intitulado o capítulo de NOVA REPÚBLICA. Luiz Inácio já está nos livros de história, um dos maiores presidentes populistas da nossa história, desde Vargas, é válido salientar que independente de viés ideológico ambos são grandes figuras no cenário político no país. Isto é um fato. Então o que faremos? Onde está a nossa moralidade? Nossa civilidade? Onde está o juramento à Constituição? Sem romantizações e realizações utópicas ou fanatismo. Depois de tantos discursos moralizadores o Orçamento Secreto se é um novo Mensalão, a compra do dito Centrão. E sim, Luiz Inácio beneficiou os ricos, mais que os pobres. Parece até estranho dizer/escrever isso, cresci ouvindo o contrário. Hoje sei que não.

E será que vale tudo para ter o poder? Será que sim? Maquiavel concordaria com certeza. Mas quebrar o Estado, patrocinar supersalários ilícitos, empreiteiras, cancelamento de obras superfaturadas, mensalão, petrolão e um rombo bilionário nos cofres públicos. Mas todo ser muda. Este está com os mesmos personagens, as mesmas figuras, construindo um pacto antagônico de parceria política. O que Luiz Inácio teve que engolir e aceitar para poder derrotar Jair Bolsonaro só mostra seu real desespero. Porém, tudo bem, podemos esquecer tudo o que ele fez pela promessa de tirar o atual da presidência e este estará salvo. Em 2018 novamente. O que preciso for para tirar o outro. Civilidade, racionalidade, legalidade, prudência, parecem soar como frases meramente filosóficas. Quando penso em 2018 até aqui, sinto o gosto de sangue na boca e engulo quase travando o peito, taquicardia e som de tambores. Para além de tudo decidimos pelo MEDO, pelo ÓDIO, pela DISPUTA, que decidimos comprar. Ali no púlpito vi vários candidatos que seriam ótimos gestores para o Brasil, entre eles Ciro Gomes e Simone Tebet, uma ótima oradora e política articulada, com propostas bem definidas e desenhadas. Ciro Gomes propunha a taxação dos super ricos, tiraria níveis alarmantes da pobreza do nosso país, especialização das forças militares, valorização e implementação de políticas práticas na educação tendo base a política educacional do Estado do Ceará que conseguiu através de ações planejadas o destaque da rede de ensino em nível nacional.
E sua vida política? Prefeito de capital, governador de estado, deputado estadual e federal, ministro, entregou as contas do estado e a economia nacional em superávite, além de ser idealizador do plano real e premiado pelo Prêmio Mundial do Unicef - Troféu Maurice Patê, prêmio ao combate à mortalidade infantil e escritor da obra Projeto Nacional: O Dever da Esperança (2020), onde tocava os pontos cruciais para o desenvolvimento de nosso Estado Brasileiro e não meramente artificial ou ideológico, nunca acusado por corrupção, filiação criminosa ou dispersão com os princípios legais. Falo deste pois é o candidato mais preparado nas eleições presidenciais que pude ver em 2018 e 2022, pelo seu grande currículo, conquistas e feitos através da política, alguém que nos avisava sobre o ódio doentio e polarização que nos afetaria cada vez mais, principalmente agora nesta política idealizada no PT (Partido dos Trabalhadores) do NÓS/ELES. O Brasil para ter "ordem e progresso" reais necessita superar essa dualidade. O cúmulo da insanidade da democrática contemporânea é aceitar válido uma disputa onde os negativos apresentam em suas costas a representação da corrupção e do neofascismo, e que tão somente seus projetos são tirar seu adversário. E mais uma vez jogamos esse jogo. Qual o projeto? Qual ação? Qual desenho econômico? Sejamos humildes em ouvir e sinceros em perguntar. Votantes do Brasil que querem o progresso "UNI-VOS", esse embate só violenta nossa democracia. 

O que vejo é a terceirização da responsabilidade, da culpa aparente, da cobrança. Hoje pela manhã vi uma amiga, esta conheci na universidade, gosto de ouvi-la, sempre me fiz presente quando assim fiz. Em outra rede proferiu que os mais de 5 milhões de votos atribuídos aos demais candidatos e não ao Luiz Inácio só atrapalharam sua vitória, e empurram-no ao segundo turno, pois ali não existiam candidatos com chances reais e que tínhamos que ter minimamente consciência disso. Aquilo era desesperador. Mostrar o que podemos entender por democracia. Agora o Brasil, continental, não votará por ideias próprias, mas sim pelas quais a mídia tornara sensato, logo em tê-los. Imagino uma disputa séria, onde existem dois candidatos extremamente divergentes, apenas para o ataque sem profundidade estratégica de Governo. Os demais, por razão, buscariam a atenção destes para o real debate, sem as paixões políticas. Me pergunto sobre esse conceito de "chances reais", em 2018 o atual presidente se mostrava com menos de 10% de interesse até a metade do segundo semestre (segundo O Estadão), e o Lula, antagonista deste, perdeu as eleições de 98, ainda nas intenções de voto ele era um dos últimos colocados perdendo para o já presidente, com vários escândalos de corrupção, sendo este FHC (Fernando Henrique Cardoso). Naquela época, contexto e mandato, FHC era o corrupto e Luiz Inácio o denunciava, mas agora eu pergunto o que diremos para nossos filhos quando perguntarem o que fizemos em nossa nação no cenário dos grandes interesses públicos? Com o receio de se voltarem a perguntar "esse é quem você escolheu para gerir nosso futuro?", com um olhar seco e curioso.
Me perco no sentido das palavras. Tudo isso parece ser um sonho, não parece ser real. A terceirização da culpa, a destruição da moralidade, a escassez dos projetos, a radicalização do discurso, a romantização da loucura, a vergonha internacional, e não, não quero ouvir discursos morais, discursos morais são enfadonhos, morosos e massantes. Minha geração não sabe escutar discursos moralizantes, temos péssimos referências de moralizadores, o atual presidente é um exemplo disso. E não esquecer os males das relações tóxicas do Poder, Luiz Inácio é um exemplo disso ou iremos apagar nosso passado "para o bem ou para o mal"? 

Pela manhã no dia 03 (segunda-feira) fui ao trabalho, acordei triste, sentia como se estivéssemos errados, sem credibilidade, uma sensação de embargo no peito e sentimento de vergonha. Quando cheguei no prédio percebi que já haviam sido formadas filas para cantar o hino nacional, evento que ocorre nas segundas-feiras. Aquelas filas me fizeram pensar sobre os ocorridos nos últimos dias, nos fazem pensar o que é ser patriota, o que é democracia, respeito, progresso (coisas que eu particularmente eu não pude ter oportunidade de ver tanto nesse período). Comentei com um colega profissional sobre esse mal-estar, ele indicou que se persistisse eu poderia ir para casa, mas reiterei que passaria e ficaria bem. As primeiras notas do hino nacional começaram, me senti responsabilizado em cantar, ali significava tanto, era um momento simbólico depois de tudo que aconteceu. Cantei de cabeça mirando o céu, ouvindo coro à minha frente, porém não consegui cantar por completo, enquanto cantava para mim mesmo pude perceber minha voz falhar aos poucos, minha respiração forte e pesada, o vento frio da manhã batendo em meu rosto e olhos. Quando percebi não estava mais cantando, as vezes que tentei continuar foram atos falhos em cantar o nosso hino nacional, estava soluçando, ali percebi que não conseguiria cantar, então preferi o silêncio ao choro, e engoli em silêncio. Vergonha, culpa, não sei. Aquilo foi estranho, senti falta de vida.

As nossas paixões só fizeram com que déssemos credibilidade demais para algumas figuras políticas, que a meu ver não deveriam estar ali. Essa terceirização da responsabilidade, esse discurso segregador, que recebemos com tanta naturalidade hoje acaba consumindo muito nosso dia a dia. Essa é a oportunidade que temos, de tornar o nosso país um lugar melhor, para se esvair aos poucos das insanidades do intelecto. Tenho receio quando escrevo sobre isso, porque parece que escutamos tantos trocadilhos e supostas brincadeiras (que se fazem presentes no discurso do atual presidente) sobre questões de saúde, e segurança, e vida, que já naturalizamos alguns discursos deste mitômano, que perdemos a sensibilidade do sério e do lúdico. Particularmente não acho que isso faz de mim uma pessoa melhor, uma pessoa superior, ou um iconoclasta, só estou a vomitar aquilo que sinto perante tudo que está acontecendo em nosso Estado, um cheiro de hostilidade, como eu já disse no início da carta, um gosto de sangue na boca, respiração pesada. Acredito que nenhum brasileiro, nenhum irmão ou irmã deveria sentir isso.

Escrito por Maicon Gabriel da S. Morais


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