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Poesia de Quinta | O apanhador de desperdícios

Bom dias amigos! Em nossa "Poesia de Quinta" vos apresento o poema "O apanhador de desperdícios" do poeta brasileiro Manoel de Barros. A análise é do Professor Juscelino Pernambuco: " Um poema como esse deve ser lido, pelo menos, duas vezes, e sei que você o fez, tal é a beleza dos versos e do encantamento que ele é capaz de provocar.

O eu - lírico do poema diz não gostar das palavras fatigadas de informar. Existe uma ansiedade pela informação cada vez maior nesse mundo tecnologizado, em excesso. E quando a informação não se transforma em conhecimento , perde seu valor.A informação é necessária e decisiva para a convivência social e sobrevivência pessoal, desde que seja convertida em conhecimento.

O eu do poema respeita mais as palavras essenciais ao dia a dia do mundo da vida, as palavras concretas do ato de viver como água, pedra e sapo, inseto. A velocidade da tartaruga fala mais à sua alma do que a velocidade dos mísseis. Ele ama o perto mais do que o longe, mais o rio da sua aldeia do que o Tejo do poema de Fernando Pessoa, é atrasado de nascença e nasceu para amar os passarinhos.

A felicidade dessa voz que se expressa nos versos de Manoel de Barros dialoga, em contraponto, com as milhares de vozes do mundo de hoje, viciadas e escravizadas pela tecnologia. O quintal do poeta é maior do que o mundo e ele se faz um apanhador de desperdícios, sabe ver nos restos o canto da vida e queria que a sua voz se formatasse em canto, de canção mesmo, e também de lugar de pensar, para nele poder dizer bem alto a sua voz poética: Não sou da informática, eu sou da invencionática e a palavra só me serve para compor meus silêncios no meio de tanto barulho e de tão pouca atenção aos gestos mais simples e importantes para a vida acontecer."

O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.


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